Benjamin, Walter.” A Obra de Arte na Era da sua Reprodutibilidade Técnica”, in “Sobre Arte, Técnica, Linguagem e Política”. Antropos. Lisboa. Relógio D’Água, Editores. 1992.
Walter Benjamin em A Obra de Arte na Era da sua
Reprodutibilidade Técnica, reflectiu essencialmente sobre o advento das
tecnologias de reprodução, que produziam obras de arte universalmente
acessíveis. Desenvolve a teoria de que a obra de arte está a perder a sua aura,
o seu valor de culto, devido à capacidade de se reproduzir por meios técnicos.
A reprodução retirava a “aura”, afastava o objecto do
domínio da tradição e, segundo Benjamin (1992), provocava a “liquidação do
valor de tradição na herança cultural”. Considerou que a proliferação de
reproduções artísticas aniquilava a singularidade das obras de arte, a sua
“aura”, a sua originalidade, a sua autenticidade.
Ele aponta a impressão escrita, a xilogravura, o
desenho, a imprensa, a litografia, a fotografia, como exemplos de uma fácil
reprodução de uma mesma obra de arte, esta “extraída” para um número além do
original criando infinitas cópias deixaria de ser uma ‘obra de arte’.
Benjamin (2002) refere que a fotografia, que é
tanto uma obra de arte passível de reprodução técnica e dependente de meios
técnicos como é ela própria um meio de reprodução técnico de outras obras. A
fotografia, que torna absurda a noção de “obra autêntica”, substituiu as raízes
rituais da arte tradicional autêntica, com uma base na política.
No seu ensaio, Benjamin (2002) afirma que antes do
advento da reprodutibilidade técnica das imagens, a obra de arte singular
possuía uma “aura”, um eco distante das origens da arte, “ao serviço de um
ritual, primeiro mágico e depois religioso”. A “aura” é o vestígio do “valor de
culto”, que as tecnologias modernas de reprodução de imagem não têm capacidade
de preservar.
Para Benjamin (2002) este é o momento em que se altera
a relação entre espectador e obra de arte. Até então, a obra estabelecia uma
relação de domínio sobre o espectador, uma relação aurática. A partir daí, com
a possibilidade de se reproduzir tecnicamente, dá-se o declínio da aura e o
modo de recepção da obra passa a ser expositivo.
Benjamin considerou o cinema como a manifestação da
perda da aura da obra de arte, da sua existência
única no aqui e agora: “por mais perfeita que seja a reprodução,
uma coisa lhe falta: o aqui e agora da obra de arte – a sua existência única no
lugar onde se encontra. Sobre essa existência única, e sobre ela apenas, se fez
a história a que obra esteve sujeita no decurso da sua existência”.
Benjamim
desenvolve o conceito de aura, que se constitui no “aqui” e “agora” de um
objeto. Para ele, na reprodução técnica, por mais perfeita que ela seja, está
ausente esse caráter, e por isso, esta ausente da sua aura. Para Benjamim nesse
aqui e agora está contido a autenticidade da obra de arte. E assim, na
reprodutibilidade técnica, a obra perde sua autenticidade.
No cinema, a
reprodutibilidade técnica torna-se obrigatória para sua existência. O filme é
uma coleção da criatividade, feito pensando nas massas, na era das massas e
para as massas.
A natureza
ilusionística do cinema está inserida em seu processo de montagem, que leva ao
cinema seu caráter de perfeição, já que é uma arte totalmente controlada, um
procedimento puramente técnico.
Com o
cinema, a arte se torna mais progressista. Essa virtude está ligada entre o
prazer de ver e sentir por um lado e a atitude especialista de outro.
Quanto mais se reduz a significação social de uma arte, maior fica a distancia,
no publico, entre a atitude de fruição e a atitude crítica.
Comparando a
pintura com o cinema, Benjamin (1992) defende que, enquanto um pintor nos
oferece uma visão total, a do cinema é-nos dada através de inúmeros fragmentos
de realidade (os fotogramas da película), reordenados através da montagem.
Benjamin
reconhece os perigos de uma obra de arte despojada de aura e valor de culto e
considera que isto é extremamente perigoso devido a todos aqueles que podem
querer tomar o lugar do fundamento divino, entre os quais se encontravam os
líderes fascistas das ditaduras da primeira metade do século XX.
Na era das
massas, a aura extingue-se para que se atinja uma maior proximidade dessas
massas através da reprodutibilidade.
A era da
reprodutibilidade técnica trouxe ainda um problema: a introdução da estética na
vida política que teve como expoente máximo a guerra. A última nova guerra
seria a oportunidade ideal para oferecer um objectivo aos grandes movimentos de
massa, enquanto os meios técnicos de então fossem mobilizados na sua
totalidade. A guerra significa para a indústria do cinema o maior impulso no
seu desenvolvimento. As grandes fábricas de sonho nasceram sob o signo da
guerra, florescendo ao longo dos dois conflitos mundiais. As massas alienadas e
desumanizadas assistiram aos grandes massacres em primeiro plano e no grande
ecrã – a isto chamou Benjamin a “politização da arte”.
Walter
Benjamin (1992) finaliza argumentando que o número sobrepõe-se à
substância, ou seja, a quantidade ultrapassou a qualidade – “o número muito
mais elevado de participantes provocou uma participação de tipo diferente.”
Aquilo que mais critica é forma de participação que o cinema desencadeou nas
massas. O quotidiano é visto como um passatempo, uma diversão, uma abstracção
daquilo se passa de facto na sociedade. Perante um dispositivo como o cinema,
que fomenta sentimentos como estes, é impossível às massas um recolhimento para
reflexão dos verdadeiros problemas.
No fundo o cinema funciona quase como um instrumento de abstracção e distracção dos públicos, fazendo com que estes não se apercebam realmente da sua condição e fazendo crer que “tudo está bem, quando acaba bem”.
No fundo o cinema funciona quase como um instrumento de abstracção e distracção dos públicos, fazendo com que estes não se apercebam realmente da sua condição e fazendo crer que “tudo está bem, quando acaba bem”.
A análise de Benjamin (1992) traça um caminho
desde o tempo dos gregos época até à contemporaneidade, alertando para os
efeitos, e possíveis consequências e perigos que os novos dispositivos técnicos
podem gerar nos públicos e nas sociedades em geral.
Apesar dos
problemas adjacentes referidos pelo autor, a reprodução técnica das obras de
arte, democratizou-as, ou seja, agora as obras são acessíveis a um público
maior e não somente a uma Elite.
Sandra, o seu blog está incompleto, apresentando apenas os fichamentos dos primeiros autores solicitados.
ResponderEliminarEsperava-se que os alunos buscassem outras referências em termos de obras, autores e ideias para compor a reflexão sobre os textos da disciplina.
Gabriela