terça-feira, 15 de janeiro de 2013

A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica, de Walter Benjamin
 

Benjamin, Walter.” A Obra de Arte na Era da sua Reprodutibilidade Técnica”, in “Sobre Arte, Técnica, Linguagem e Política”. Antropos. Lisboa. Relógio D’Água, Editores. 1992.
 
 

Walter Benjamin em A Obra de Arte na Era da sua Reprodutibilidade Técnica, reflectiu essencialmente sobre o advento das tecnologias de reprodução, que produziam obras de arte universalmente acessíveis. Desenvolve a teoria de que a obra de arte está a perder a sua aura, o seu valor de culto, devido à capacidade de se reproduzir por meios técnicos.
A reprodução retirava a “aura”, afastava o objecto do domínio da tradição e, segundo Benjamin (1992), provocava a “liquidação do valor de tradição na herança cultural”. Considerou que a proliferação de reproduções artísticas aniquilava a singularidade das obras de arte, a sua “aura”, a sua originalidade, a sua autenticidade.
Ele aponta a impressão escrita, a xilogravura, o desenho, a imprensa, a litografia, a fotografia, como exemplos de uma fácil reprodução de uma mesma obra de arte, esta “extraída” para um número além do original criando infinitas cópias deixaria de ser uma ‘obra de arte’.
Benjamin (2002) refere que a fotografia, que é tanto uma obra de arte passível de reprodução técnica e dependente de meios técnicos como é ela própria um meio de reprodução técnico de outras obras. A fotografia, que torna absurda a noção de “obra autêntica”, substituiu as raízes rituais da arte tradicional autêntica, com uma base na política.
No seu ensaio, Benjamin (2002) afirma que antes do advento da reprodutibilidade técnica das imagens, a obra de arte singular possuía uma “aura”, um eco distante das origens da arte, “ao serviço de um ritual, primeiro mágico e depois religioso”. A “aura” é o vestígio do “valor de culto”, que as tecnologias modernas de reprodução de imagem não têm capacidade de preservar.
Para Benjamin (2002) este é o momento em que se altera a relação entre espectador e obra de arte. Até então, a obra estabelecia uma relação de domínio sobre o espectador, uma relação aurática. A partir daí, com a possibilidade de se reproduzir tecnicamente, dá-se o declínio da aura e o modo de recepção da obra passa a ser expositivo.
Benjamin considerou o cinema como a manifestação da perda da aura da obra de arte, da sua existência única no aqui e agora: “por mais perfeita que seja a reprodução, uma coisa lhe falta: o aqui e agora da obra de arte – a sua existência única no lugar onde se encontra. Sobre essa existência única, e sobre ela apenas, se fez a história a que obra esteve sujeita no decurso da sua existência”.
Benjamim desenvolve o conceito de aura, que se constitui no “aqui” e “agora” de um objeto. Para ele, na reprodução técnica, por mais perfeita que ela seja, está ausente esse caráter, e por isso, esta ausente da sua aura. Para Benjamim nesse aqui e agora está contido a autenticidade da obra de arte. E assim, na reprodutibilidade técnica, a obra perde sua autenticidade.
No cinema, a reprodutibilidade técnica torna-se obrigatória para sua existência. O filme é uma coleção da criatividade, feito pensando nas massas, na era das massas e para as massas.
A natureza ilusionística do cinema está inserida em seu processo de montagem, que leva ao cinema seu caráter de perfeição, já que é uma arte totalmente controlada, um procedimento puramente técnico.
Com o cinema, a arte se torna mais progressista. Essa virtude está ligada entre o prazer de ver e sentir por um lado  e a atitude especialista de outro. Quanto mais se reduz a significação social de uma arte, maior fica a distancia, no publico, entre a atitude de fruição e a atitude crítica.
Comparando a pintura com o cinema, Benjamin (1992) defende que, enquanto um pintor nos oferece uma visão total, a do cinema é-nos dada através de inúmeros fragmentos de realidade (os fotogramas da película), reordenados através da montagem.
 Benjamin reconhece os perigos de uma obra de arte despojada de aura e valor de culto e considera que isto é extremamente perigoso devido a todos aqueles que podem querer tomar o lugar do fundamento divino, entre os quais se encontravam os líderes fascistas das ditaduras da primeira metade do século XX.
Na era das massas, a aura extingue-se para que se atinja uma maior proximidade dessas massas através da reprodutibilidade.
A era da reprodutibilidade técnica trouxe ainda um problema: a introdução da estética na vida política que teve como expoente máximo a guerra. A última nova guerra seria a oportunidade ideal para oferecer um objectivo aos grandes movimentos de massa, enquanto os meios técnicos de então fossem mobilizados na sua totalidade. A guerra significa para a indústria do cinema o maior impulso no seu desenvolvimento. As grandes fábricas de sonho nasceram sob o signo da guerra, florescendo ao longo dos dois conflitos mundiais. As massas alienadas e desumanizadas assistiram aos grandes massacres em primeiro plano e no grande ecrã – a isto chamou Benjamin a “politização da arte”.
Walter Benjamin (1992) finaliza argumentando que o número sobrepõe-se à substância, ou seja, a quantidade ultrapassou a qualidade – “o número muito mais elevado de participantes provocou uma participação de tipo diferente.” Aquilo que mais critica é forma de participação que o cinema desencadeou nas massas. O quotidiano é visto como um passatempo, uma diversão, uma abstracção daquilo se passa de facto na sociedade. Perante um dispositivo como o cinema, que fomenta sentimentos como estes, é impossível às massas um recolhimento para reflexão dos verdadeiros problemas.
No fundo o cinema funciona quase como um instrumento de abstracção e distracção dos públicos, fazendo com que estes não se apercebam realmente da sua condição e fazendo crer que “tudo está bem, quando acaba bem”.
A análise de Benjamin (1992) traça um caminho desde o tempo dos gregos época até à contemporaneidade, alertando para os efeitos, e possíveis consequências e perigos que os novos dispositivos técnicos podem gerar nos públicos e nas sociedades em geral.
Apesar dos problemas adjacentes referidos pelo autor, a reprodução técnica das obras de arte, democratizou-as, ou seja, agora as obras são acessíveis a um público maior e não somente a uma Elite.
 
 

 

1 comentário:

  1. Sandra, o seu blog está incompleto, apresentando apenas os fichamentos dos primeiros autores solicitados.
    Esperava-se que os alunos buscassem outras referências em termos de obras, autores e ideias para compor a reflexão sobre os textos da disciplina.
    Gabriela

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